[Alunos-assis] Fwd: Debate

Lista dos Alunos da Unesp/Assis alunos-assis em listas.unesp.br
Terça Setembro 9 13:49:51 BRT 2014


Convidamos a todos para participar do debate que ocorrerá amanhã, 10/09, às
14h, no saguão do prédio I. O tema da conversa é sobre o produtivismo na
Universidade.
Aproveitamos o ensejo para encaminhar o manifesto Slow Science, traduzido
por nossa colega Brigitte Hervot. Há também o link da página, para quem se
interessar.


Cordialmente,
Comando de Greve



http://slowscience.fr/


Para um movimento Slow Science




Pesquisadores, professores-pesquisadores, vamos nos apressar para
desacelerar! Libertemo-nos da Síndrome de Rainha Vermelha! Cessemos de
querer correr mais rápido e mais rápido para, enfim, ficar parados, ou até
mesmo, dar marcha ré! Como o movimento Slow Food , Slow City e Slow Travel
, chamamos para a criação da Slow Science .
Olhar, pensar, ler, escrever, ensinar exige tempo. Esse tempo, não o temos
mais, ou cada vez menos . Nossas instituições e, mais além, a pressão da
sociedade promovem uma cultura do imediatismo, da urgência, do tempo real,
dos fluxos tensos, dos projetos que se sucedem em um ritmo sempre mais
rápido. Tudo isso é feito não só à custa de nossas vidas – qualquer colega
que não está sobrecarregado, estressado, "overbooking" passa hoje por
original, apático ou preguiçoso –, mas também à custa da ciência. A Fast
Science , como a Fast Food , favorece a quantidade sobre a qualidade.
Multiplicamos os projetos de pesquisa para tentar fazer viver nossos
laboratórios que, muitas vezes, reclamam de sua pobreza. Resultado: assim
que acabamos de desenvolver um programa e, por mérito ou por acaso, de
receber um apoio financeiro, logo devemos pensar em responder às próximas
chamadas de projetos, ao invés de nos dedicar integralmente ao primeiro
projeto.

Porque assessores e outros especialistas estão sempre com pressa , nossos
currículos são cada vez mais avaliados pelo número de linhas ( quantas
publicações, quantas comunicações, quantos projetos?), um fenômeno que
induz uma obsessão da quantidade na produção científica. R esultado: além
da impossibilidade de ler tudo, inclusive nas áreas mais avançadas, além do
fato de que um grande número de artigos não só nunca são mencionados, mas
nunca são lidos, torna-se cada vez mais difícil localizar a publicação ou
comunicação que realmente importa – aquela à qual o ou a colega terá gasto
todo o seu tempo durante meses, às vezes durante anos - entre os milhares
de artigos duplicados, enlatados, reformatados, quando não são mais ou
menos "emprestados".
É claro, a nossa formação deve ser sempre "inovadora", obviamente
"performante", "estruturante" e adaptada à "evolução das profissões",
evolução da qual aliás é muito difícil identificar os contornos eternamente
em movimento. Resultado: nesta corrida desenfreada para a "adaptação", a
questão dos conhecimentos fundamentais para ser transmitidos -
conhecimentos que, por definição, só podem ser inscritos na duração - não
está mais na ordem do dia. O que importa é estar em sintonia com os tempos
e, especialmente, é mudar constantemente para acompanhar esses “tempos” que
também estão mudando.
Se aceitarmos responsabilidades de gestão (conselho de gestão
universitária, chefia de departamentos ou laboratórios), como todos nós
somos obrigados a fazer durante a carreira acadêmica, somos logo obrigados
a preencher dossiês e dossiês, muitas vezes dando as mesmas informações e
as mesmas estatísticas pela enésima vez. Muito mais grave são os efeitos de
uma burocracia invasora e da “reuniãonite” - esse último fenômeno
permitindo de salvar as aparências da colegialidade, enquanto em geral
esvazia-a de sua essência – que fazem com que ninguém mais tem tempo para
nada: é preciso dar nossa avaliação de dossiês recebidos no mesmo dia para
sua implementação no dia seguinte! Certo, caricaturamos as coisas um pouco
ao escrever isso, mas infelizmente não estamos muito longe disso.



Esta degeneração de nossas profissões não tem nada de inevitável. Resistir
à Fast Science é possível. Podemos promover a Slow Science , dando
prioridade a valores e princípios fundamentais:



· Na universidade, é principalmente a pesquisa que continua a nutrir o
ensino, apesar das agressões repetidas de todos aqueles que sonham em
secundarizar esta instituição. É imperativo preservar pelo menos 50% de
nosso tempo a essa atividade de pesquisa, que determina a qualidade de tudo
o mais. Em termos concretos, isto implica a rejeição de qualquer tarefa que
iria invadir esses 50%.

· Pesquisar e publicar enfatizando a qualidade exige que cada um possa se
concentrar exclusivamente nessas tarefas durante um tempo suficientemente
longo. Para esse fim, reivindicamos o benefício de períodos regulares, sem
carga horária de ensino ou de gestão (um semestre de direito a cada 4 anos
por exemplo).

· Cessemos de privilegiar a quantidade no CV. Universidades estrangeiras já
dão o exemplo, ao limitar a 5 o número de publicações que podem ser
mencionadas por um candidato a uma vaga ou promoção (Trimble SW, 2010,
"Reward quality not quantity", Nature , 467:789). Isso pressupõe que, por
meio do colegiado e de maneira transparente, nos usamos métodos e
ferramentas para que nossos dossiês não sejam mais avaliados pelo número de
publicações ou comunicações, mas com base no conteúdo dos mesmos.



· Nutrido pela pesquisa, o ensino é a missão por excelência dos
universitários: transmitir os conhecimentos adquiridos. Deve-se deixar os
professores-pesquisadores membros ensinarem, melhorando suas condições de
trabalho (quanto desperdício de tempo na resolução de problemas práticos e,
muitas vezes triviais que estão fora de suas missões?), reduzindo as
tarefas administrativas e reduzindo o tempo gasto para "elaborar modelos."
Estes famosos "modelos", em particular, poderiam se limitar a definir o
currículo específico para a disciplina na universidade em questão, sem a
necessidade de mudar este quadro a cada quatro anos (ou cinco), como é o
caso atualmente.

· Em nossas tarefas de gestão, exigimos o tempo necessário para estudar os
dossiês que nos submetem. Doravante , no interesse de todos, trabalhamos
apenas sobre os conteúdos e rejeitemos esse ersatz de democracia ou de
colegialidade que consiste em votar sobre questões que, na melhor das
hipóteses, só conseguimos sobrevoar. Nada nos obriga a nos submeter à
ideologia da urgência tão apreciada pelo Ministério e os "gerentes
responsáveis".

· De modo mais geral, é útil lembrar que nossa vida não se limita à
Universidade e que é necessária reservar algum tempo livre para as nossas
famílias, nossos amigos, nosso lazer ou ... para o prazer de não fazer nada.



Se você concorda com estes princípios, assinar o texto de chamada na
fundação do movimento Slow Science . Mas acima de tudo, tome o tempo antes
de decidir se assina ou não !

Joël Candau, 29 de outubro de 2010 (publicado 17 julho de 2011)
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